DEFICIÊNCIA DE G6PD E INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: OS RISCOS DE NÃO SEGUIR AS RESTRIÇÕES
Frequentemente vejo pais relatando que não seguiam as restrições corretamente (muitos por não ter conhecimento) ou aqueles que descobriram já na idade adulta que eram deficientes de g6pd e que, apesar de não terem feito as restrições “nunca sentiram nada”.
Insistentemente reforçamos que o não “sentir” nada não significa não “acontecer” nada.
Hoje vou detalhar um estudo que relaciona a deficiência de g6pd à insuficiência renal, e reforçar a importância de seguir as restrições.
Quem assistiu à nossa palestra em São Paulo pôde ouvir esse relato de caso.
Em uma página internacional sobre deficiência de G6PD, havia um relato de caso dizendo que um homem de 36 anos, iniciou com insuficiência renal aos 30 anos sem causa aparente. Aos 18 anos ele serviu a Aeronáutica Americana e foi informado durante exames médicos que possuía “uma alteração no sangue, que em caso de malária deveria receber doses especiais de medicamentos”. Não recebeu nenhuma outra orientação sobre o diagnóstico. Levou uma vida normal até que iniciou pressão alta aos 30 anos e, teve diagnostico de insuficiência renal. A esposa
lembrou-se do “problema do sangue” e chegou ao diagnóstico de deficiência de g6pd.
Usou todo tipo de substâncias restritas durante a vida, nunca tendo tido uma crise APARENTE de hemólise, praticava esportes regularmente.
Evoluiu para hemodiálise e, posteriormente, para transplante de rins.
Pesquisando sobre a relação entre deficiência de g6pd e insuficiência renal, encontrei o artigo “PREVALENCE OF G6PD DEFICIENCY IN PATIENTS WITH CHRONIC KIDNEY DISEASE OF UNKNOWN ORIGIN IN NORTH CENTRAL REGION OF SRI LANKA: CASE CONTROL STUDY”, dos autores Jayasekara JMKB, Dissanayake DM, Gunaratne MDN, Sivakanesan R, Dissanayake DMTS, publicad no International Journal of Recent Scientific Research em 2013.
(Prevalência de deficiência de g6pd em pacientes com doença crônica dos rins de origem indeterminada em uma região do Norte Central do Siri Lanka: estudo de caso controle)
Este estudo avaliou 80 homens e 24 mulheres com doença renal crônica sem causa definida, e 160 homens e 48 mulheres sem doença renal.
Foram afastadas causas conhecidas de insuficiência renal, como diabetes, tabagismo, infecções urinárias freqüentes, uso de medicamentos e malformações nos rins.
De acordo com a medida da atividade da enzima g6pd, 20% dos pacientes com insuficiência renal tinham deficiência de g6pd,
(4% variante severa, 6% variante moderada e 10% variante leve), e apenas 2% dos controles (pessoas sem insuficiência renal) tinham deficiência de g6pd (1% moderado e 1% leve).
“Finally we can conclude that G6PD deficiency may play a considerable role in the pathogenesis of chronic kidney disease due to unknown origin”
(Finalmente nós podemos concluir que a deficiência de g6pd pode ter um papel considerável na patogênese da doença renal crônica de origem desconhecida).
Podemos concluir baseados neste estudo, que nem sempre o contato com um restrito vai causar uma hemólise VISÍVEL, pois muitas vezes os sintomas são leves e considerados um pequeno mal estar, não levando a pessoa ao hospital, ou, mesmo que vá ao hospital, acaba sendo diagnosticado como uma leve anemia sem necessidade de maiores investigações.
Essas hemólises invisíveis ao longo da vida sobrecarregam todo o copo, sendo os órgãos mais afetados o baço, fígado, vesícula biliar e rins.
As complicações mais freqüentes da falta de restrições são: anemia hemolítica crônica, cirrose do fígado, pedras na vesícula, aumento do baço e insuficiência renal.
As conseqüências podem surgir apenas muitos anos depois de adulto.
Prevenção é o melhor (e único) remédio para os deficientes de g6pd.
Na maioria das vezes há opções de medicamentos e substâncias seguras para os deficientes de g6pd, não sendo necessário uso de substâncias restritas.
Reforçando mais uma vez que “não sentir nada” não significa que não está agredindo o corpo lentamente. Essas agressões constantes a longo prazo trazem conseqüências sérias para os deficientes de g6pd.
Termino com a minha frase favorita quando alguém diz que “só um pouquinho não faz mal”: SEGURO MORREU DE VELHO
Escrito por Dra. Renata Garcia
Excelente